quarta-feira, 19 de maio de 2010

"Portugal não consegue financiar-se", diz Ulrich (in Expresso)

Fernando Ulrich, presidente do BPI, não podia ter sido mais claro na sua intervenção no debate 'Do Défice ao Desenvolvimento' da Conferência Portugal em Exame: "Tirem já o C do PEC, o C é para esquecer". "O dia em que bateremos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. Lamento, mas o país tem de saber".
 

Na sua intervenção, o presidente do BPI foi especialmente crítico quanto à actual situação do país. "O principal problema de Portugal não é apenas de tesouraria, mas sim o facto de não nos conseguirmos financiar", defende Fernando Ulrich.

"Não se trata de um problema de preço, mas sim de acesso ao crédito. Um problema que não sabemos hoje quando se vai resolver. Por isso mesmo, sugiro ao Governo que não publique cenários macroeconómicos sem explicar como estes se vão financiar."

"Portugal tem dificuldade em financiar-se e não sabemos quando vai deixar de ter, ou se vai deixar ter (financiamento), só saberemos se conseguimos financiamento quando o BCE deixar de comprar", disse.

Fernando Ulrich aponta que até para as medidas de contenção anunciadas será complicado encontrar liquidez.

"A discussão sobre grandes projectos está neste momento ultrapassada", defendeu, referindo-se ao adiamento das obras públicas anunciadas. "Ou se discute a sério a economia portuguesa e o seu sistema financeiro, ou teremos graves problemas de futuro."
"É bom que o país saiba"

O responsável do BPI não tem dúvidas sobre a gravidade do que vai acontecer a curto prazo: "O dia em que bateremos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI. Lamento, mas o país tem que saber".


in, Expresso on-line (18 de Maio de 2010)

Conflitos sociais tendem a alastrar-se como resposta às medidas de contenção financeira

terça-feira, 11 de maio de 2010

BATATA QUENTE

Como interpretar hoje as movimentações deste e do outro lado do Atlântico? Parece-me que agora todos se aperceberam da insustentabilidade da situação. E nada melhor para explicar o actual contexto económico, financeiro e político Mundial de que falar no jogo do empurra.

Todos tomaram consciência da existência da existência de uma batata quente que é, hoje mais que nunca evidente, que irá ser o colapso de todo o sistema económico e financeiro Mundial. E portanto, a guerra que está a ser travada tem o objectivo de tentar, “sacudir a água do capote” ou como referido no título, arremessando com a “batata quente” de um lado para outro do Atlântico.

Ora os americanos atacam a estabilidade da moeda única e da zona Euro, servindo-se dos Estados Frágeis, entretanto denominados de PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha). Quais as armas utilizadas? As agências de Rating que dominam a avaliação de risco de incumprimento do pagamento da dívida a nível Mundial e, que por acaso estão sedeadas nos EUA. A arma menos visível, mas que percebe-se, está a desempenhar um papel fulcral nesta guerra, aliás como se verificou no caso da Grécia, é a instituição financeira Goldman Sachs, também ela americana. Há com certeza outras armas mas que desempenham papeis menos aparentes e que por esse motivo, se constituem num alvo de controvérsia.

Ora do lado Europeu, a resposta tem sido ténue e incipiente. Numa primeira fase, com pressão cambial, que tem vindo a empreender a sistemática desvalorização do Dólar, que como sabemos é uma estratégia denominada de “faca de dois gumes”. Ora responde, com o Mega Fundo anunciado no passado dia 9 de Maio, que é uma resposta concreta ao ataque americano. Prevendo o dito Fundo o apoio financeiro, na situação mais pessimista gerada pelo colapso de todos os países em risco na zona Euro. Empreende-se desta forma uma blindagem ao Euro, mas anuncia-se paralelamente a inevitabilidade do colapso das Nações PIIGS. O que colocará questões profundas na exequibilidade na concretização do dito Fundo.

Estamos portanto, num pim-pam-pum transcontinental que não é mais do que uma bomba relógio. Ninguém, nem os EUA nem a Europa pretendem tornar-se na ovelha negra Mundial, ninguém gostará de se tornar na cavilha que despoletou a granada de implosão do sistema económico e financeiro Mundial.

Estamos todos – Portugal, a Europa e o Mundo - perante uma encruzilhada. Por um lado, continuarmos a assistir a essa troca consecutiva da “batata quente”, fazendo figas para que expluda do outro lado do Atlântico; pese embora, não perceba o que isso poderá beneficiar do lado de cá; ou, enfrentar a inevitabilidade do colapso e trabalhar desde já, numa estratégia pró activa no período pós colapso.

Eu continuo a dizer que só nos resta esse caminho! O de tomar a dianteira. Tendo a vantagem de assumir como objecto de estudo a Grécia. Percebendo os impactos que advirão do colapso da sua economia, começar a trabalhar numa estratégia que atalhe caminho perante o facto consumado. Portugal tem hoje a possibilidade de abdicar da sua constante reactividade.